Era uma data apenas.
Mas ali havia um marco, havia um elo bonito.E todos os anos ela via chegar com alegria, para todas as crianças que conhecia, menos para ela.
Sentada numa pedra em frente para o mar, ela corria os olhos naquele mundão de água.
Não percebia que um mar também se fazia nos olhos dela.
Recorda...
O lugar era repleto de crianças, todas muito bem vestidas e felizes.
Ela caminhava sobre aquela alegria deles, com um sorriso de deslumbre.
Nunca havia presenciado tanta felicidade junta.
Os brinquedos, tantos e tantos, todos de diversos rostos.
Ela se encantou com a tartaruguinha que balançava, toda vez que alguém punha uma criança lá.
Chegou pertinho, tocou o brinquedo e todos se voltaram para ela, como se ali estivesse alguém muito diferente.
Ela olhou para si mesma e não percebeu nada de errado, então continuou a tocar o bichinho.
Logo um senhor se aproxima.
Hei menina o que está fazendo aqui?
Ela - Vim brincar moço.
Ele segurou forte seu bracinho e foi levando-a até o local da saída.
Depois quando chegou à rua, ele abaixou e foi falando, lhe olhando direto nos olhos.
Ele - Escute menina, não entre mais aqui está entendendo?
Ela - Sim moço estou...
Ele larga seu braço e já vai entrando quando a menina pergunta.
Ela – Moço, porque eu não posso brincar aí?
Ele - Porque você não tem sapatos.
Ela - Só por isso?
Ele não lhe respondeu mais nada, apenas deu as costas e se foi.
Ela foi saindo sem entender, porque os sapatos faziam tanta diferença.
Então sentou-se num banco que ficava na entrada daquele lugar tão bonito e ali, ficou vendo as crianças chegarem acompanhadas de um adulto, com um balão numa mão e pipoca na outra.
Seu estomago doía, estava com fome, mas logo ia passar, às vezes passava quando ela dormia.
Um senhor muito alto e elegante, passa por ela e lhe sorri.
Ela sorri também e ele continua seu caminho, vai entrar naquele lugar bonito.
Ela observa o sapato dele, é tão brilhante.
Algo cai no chão e ele nem percebe.
Ela corre e pega, olha é uma carteira, bem gorda.
Então abre a portinha e grita, senhor muito grande, olha aqui.
Ele parece não ouvir.
Ela pensa no que o outro homem que lhe machucou o braço falou.
Então pegou um saco plástico que estava na lixeira da entrada e fez sapatos para seus pés, entrou na loja que o senhor estava.
Quase sem forças de tanto amarrar o plástico e olhar para não perder o homem de vista.
Chegou à porta da loja e gritou novamente.
Hei seu homem grande, posso falar com o senhor?
Todos se voltam para ela e fitam seus pés.
Sente então um aperto em seu braço. Era aquele senhor mau novamente.
Menina eu não te avisei que não era para entrar aqui?
Ela - Por favor, eu só vim devolver isso para esse senhor, ele deixou cair lá fora. Mas eu estou de sapatos veja! Disse chorando por sentir dor no braço.
O senhor muito grande pegou a carteira e lhe abraçou muito forte.
A menina olhou para ele e disse.
O senhor nunca ia ficar com o braço machucado aqui nesse lugar, seus sapatos são tão bonitos.
Ele então lhe carregou no colo e lhe beijou o rosto.
O outro não sabia para onde foi, e as senhoras lhe acariciavam a cabeça.
Então ela diz que já precisa ir.
O senhor muito alto, se chamava Nélio.
Perguntou se ela queria comer alguma coisa.
Ela lhe respondeu um suco de água tem?
Ele - Suco de água?
Ela - Sim.
Ele - Como se faz ?
Ela - Põe a água num copo e imagina que ela tem doce.
Ele com a menina no colo, caminhou para um lugar com cheiro de coisas gostosas.
Depois sentou-lhe numa cadeira muito bonita, aliás ali tudo era bonito e lhe serviu uma pizza, que ela até hoje não esquece.
Depois lhe perguntou o que mais ela gostaria de fazer naquele dia.
Ela disse que era andar na tartaruga que parece com a do mar.
Lá onde um montão de crianças estavam.
Ele - Então vamos lá?
Ela - Não posso.
Ele - Por quê?
Ela - Meu sapato rasgou lembra? E aquele senhor disse que não se pode ficar aqui sem sapatos.
Ele olhou nos olhos dela.
E ela viu ali o mesmo mar que havia nos seus.
♥
(Continua...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gratidão♥♫