Autoria:Imagem e texto
M. Fernanda
Hoje vou falar de um elo de amor.
Aquele que se empenha nos mínimos detalhes, que ama, que se doa, que não põe medidas para amar.Seja ela correspondida ou não, sempre continuará sua missão de anjo.
MÃE! É de vocês que vou iniciar a semana falando.
As palavras mais bonitas que achei desde que conheci o significado: MÃE e PAI.
Mas vou comentar apenas uma delas, por merecimento do mês.
Um dia muito pequena, eu ouvia nas nossas orações “pai do céu” e “mãe do céu”.
Pensava que todas as pessoas do mundo tivessem o “pai do céu” e a “mãe do céu” apenas e ponto.
Não sei precisar bem minha idade, mas lembro com nitidez, a primeira vez que ouvi, uma menina dizer: mãe me compra uma bala? Com a maior naturalidade do mundo para ela. E para mim foi uma emoção tão forte, parecia que o céu estava na Terra e eu maravilhada, extasiada.
Corri na direção da senhora e lhe disse: você é a “mãe do céu”?
Ela - Não querida, eu sou mãe da Lia apenas.
Eu - Mas você pode ser minha mãe também?
Ela - Não minha querida, você já deve ter a sua própria mãe.
Eu - Eu tenho, a “mãe do céu”. Mas eu pensei que ela fosse mãe de todas as pessoas.
Ela - E é querida, mas deixou aqui na Terra, mãe e pai terrenos.
Eu - O que é terreno?
Ela - É a Terra, a Terra chamamos terrena.
Eu - Então eu tenho um pai e uma mãe só para mim?
Ela - Creio que sim.
Eu - Mas onde eles estão?
Ela - Na sua casa meu bem.
Saí da frente da igreja em disparada e corri para junto das outras crianças, e lhes contei a novidade.
Mas parecia que nenhum dos meus amiguinhos se interessou pela história.
Então chamei a irmã Dolores que cuidava da gente no horário da missa e lhe perguntei, onde estavam meus pais, que precisava muito lhes falar.
Ela me observou por algum tempo e depois me disse: menina, não tenho como chamar seus pais. Eles não moram aqui.
Eu - Mas todos temos pai e mãe, então onde estão os meus?
Bom, essa conversa se estendeu até a noite no orfanato, e como eu era a única a questionar a situação, a supervisora me levou até a diretora, e ela teve uma conversa proveitosa comigo.
Escuta menina, eu só conheci sua mãe, e te deixou aqui para vir buscar com dois dias e até hoje não voltou. Agora, deixe de perguntas e vá dormir.
Lembro como se fosse hoje, aquela conversa.
Então sem perceber que eu chorava, a supervisora, pegou no meu braço e me levou até o alojamento, e eu fui para minha cama tão triste, lembrando da Lia e da mãe dela.
Não conseguia dormir, só chorava baixinho, daí corri para o corredor e olhei pela fresta um pouquinho do céu e lá ajoelhei, juntei as mãozinhas e rezei.
Pai do céu, eu pensei que todas as pessoas só tivessem um pai e uma mãe e eles moravam aí no céu. Mas hoje descobri que temos um pai e uma mãe aqui, e aí então temos dois pais e duas mães.
O Senhor e mãezinha estão aí em cima cuidando da gente, e como a escada é muito grande para vir aqui, nos deu o segundo pai e a segunda mãe para cuidar da gente na terrena, que a moça falou. Como há muita gente por aqui, as nossas mães e pais daqui do orfanato, se perderam na descida, o Senhor pode iluminar os passos deles, para vir nos buscar? Ou vir morar com a gente?
Eu sei que pode! O senhor pode todas as coisas né? Eu sei.
Mas percebi porém que o lugar em que estávamos, era justamente porque nossos pais nos guardaram por lá e se foram.
Percebi também que só os privilegiados tinham pai e mãe.
Que pai e mãe nem sempre podiam ser de todos, e que aqueles que não os tinham poderiam um dia tê-los, mas talvez nunca tivessem.
Um dia no natal havia pessoas que iam ver as crianças para adotá-las. Antes de a hora chegar, estava conversando com quatro amiguinhas minhas, e elas queriam muito um lar, uma mãe, um pai, uma boneca, um cachorro, enfim, todas no mesmo ideal.
Eu tinha a ilusão que a minha mãe voltasse e me levasse com ela, então eu me escondia quando as pessoas chegavam.
Minhas amigas com o tempo foram ganhando pais e um lar e eu esperava minha mãe.
Um dia percebi que ela não viria, foi triste mas constatei.
Então como a vida no orfanato era um pouco gritante para minha fragilidade e delicadeza eu fugi, e fui morar na rua.
Bom, mas isso é outra história.
A palavra mãe tem doçura, carinho e amor.
Aprendi a ler por minha própria vontade, e sabe? Nem sei explicar isso, apenas um dia estava lendo e foi bem mesmo assim.
Então comecei a escrever para o céu, algumas vezes escrevia bastante nos papéis que encontrava limpo nas lixeiras, folhas soltas jogadas por alguém.
E quando ouvia no parque alguém dizer “mãe vem cá”, “mãe me põe no balaço”?
Eu punha as mãos no queixo e ficava sonhando que eu também podia chamar mãe. Então chamava, “mãe do céu” vem brincar comigo?
Um dia, não sei se foi sonho ou se foi imaginação de criança.
Mas os brinquedos estavam livres na praça e uma senhora muito bonita e elegante, toda de vestido rodado azul, bem comprido, chegou perto de mim, eu tinha uns seis anos, e ela disse: filha vamos brincar? Eu nem queria questionar naquele momento, apenas segurei em suas mãos e fui. Ela me deu um abraço tão doce e forte que parecia que meu coração irradiava amor por todos os lados.
Minha palavra que consegui pronunciar ali, foi apenas “mãe você veio”? Ela – sim filha você me chamou e eu vim.
Vamos brincar bastante e depois vou precisar ir outra vez, mas sempre que precisar de algo peça em direção ao Pai que está nos céus, e tudo lhe será dado na medida em que você for entendendo os motivos de ser como é.
Brincamos, brincamos até as seis quando o sino da igreja badalou, percebi então que nas badaladas do meio dia ela chegou e se foi às seis da tarde.
Nunca contei isso a ninguém, apenas me deu vontade de escrever hoje. Tudo bem, eu era uma criança e as crianças vêem coisas.
Mas nunca deixei de amar, olhar para o céu, nunca peço nada para mim, tenho mais conforto de pedir pelos outros, me sinto feliz assim.
Minha mãe esteve sempre presente nos meus anseios, no meu amor e no meu coração.
A palavra MÃE é preciosidade!
Filhos valorizem esse tesouro, pois o coração de uma mãe comporta sacrifícios enormes de amor por você, o que quer que possa imaginar, esse anjo faz, na medida do seu possível, e quando não lhe é possível, ela pede em oração e roga a Deus por ti.
Esta mulher é a ligação mais próxima de uma conversa ao pé do ouvido com Deus.
Que neste mês de maio, eu possa falar com exatidão da doçura e meiguice dessa brava defensora de sua prole.
M Ã E!