(Autoria: Fernanda)
Não fica triste euzinha, um dia tudo vai ser alegria...
Mônica - Fernandinha preciso corrigir seu caderno amanhã, então não esqueça de trazer seu caderno e deixar o borrão em casa.
Ela - Tia pode corrigir esse, ele está bem arrumadinho olha!
Mônica - Fernandinha você já está me devendo a visita dos seus pais. Quer ficar sem nota pelo caderno?
Ela balançou a cabeça triste negativamente, e agora? Como iria arrumar um caderno para apresentar à professora? Ela não sabia das dificuldades de Fernandinha, e Fernandinha não queria contar, tinha receio de ser mandada embora da escola.
Senhor do alto, estou numa nervura só. Amanhã já está chegando e eu não tenho caderno. A tia pensa que as minhas folhas-caderno são um borrão, e você sabe que eu não disse nada, que tinha um caderno em casa, eu não tenho nem casa, quanto mais um caderno. O Senhor pode fazer um milagre destes que só o Senhor sabe fazer, e fazer cair daí de cima um caderno para eu trocar as letras desse para o ele?
Se não puder, eu também agradeço, mas não me deixa ser mandada embora da escola, eu preciso aprender a ser alguém. A dona Ivone disse lá na feira, que as pessoas precisam estudar para ser alguém um dia. Então como eu ainda sou só a Fernandinha e preciso aprender para ser alguém, me ajuda!
Na manhã seguinte, lá estava a Fernandinha olhando o outro lado do banco, embaixo dele e nada. Pronto! E agora? Sentou-se ao lado das suas folhas presas com um fio de plástico, verificou se tudo estava em ordem, foi no chafariz, lavou o rosto, passou as mãos nos cabelos para abaixá-los, e foi rumo à escola.
Chegando lá sentou-se na última carteira, baixou a cabeça e ficou bem quietinha. A professora Mônica entra na sala. Todos ficaram de pé, mas ela continuou sentadinha, para não fazer nenhum barulho. Quando de repente sem fazer chamada nem nada a tia fala em alto tom. Fernanda, queira por favor me trazer seu caderno.
Ela já não podia mais conter a ansiedade e levantando-se foi em direção à professora.
As folhas caíram de suas mãos, mas ela delicadamente as juntou e em seguida entregou à mestra.
Mônica - Por que está chorando querida?
Ela - São meus olhos tia, que estão com dó de mim.
Mônica - E por que seus olhos estão com dó de você?
Ela - Porque eles sabem que eu não tenho caderno.
Mônica - Mas este não é seu borrão?
Ela - Lembra que foi a senhora que disse isso?
É que foi a senhora que me mandou trazer o meu caderno e deixar o borrão em casa. Eu fiquei calada porque pensei que o caderno fosse muito, muito importante para senhora, então eu pensei que talvez se acontecesse um milagre, e o Senhor do alto me mandasse um caderno, tudo estava resolvido, mas Ele estava muito ocupado, muito mesmo, porque Ele tem que cuidar das pessoas do mundo inteiro.
Mônica - Venha cá, o que seus pais fazem?
Pausa...
Mônica - Não se acanhe querida, pode confiar em mim.
Ela - Eu confio.
Mônica - Por que sempre vem descalça para a escola?
Pausa...
Mônica - Amanhã peça à sua mãe para vir falar comigo, está bem?
Ela - Ela não vem tia.
Mônica - Virá querida entregue esse bilhete a ela, tenho certeza que ela virá.
Ela - Eu queria muito entregar, mas não posso.
Mônica - Fernanda, o que está acontecendo com você querida?
Pausa...
Então ela segurou o “caderno” corrigiu e prosseguiu a aula.
Na saída, ela tratou de novamente lembrar: não esqueça, venha com sua mãe amanhã.
Ela baixou novamente a cabeça e seguiu. No “seu” banco de praça, ficou olhando demoradamente para o céu.
Senhor do alto, eu gostava de ir para a escola, lá eu podia me alimentar e tinha amiguinhos, podia aprender, agora acabou. Eu não sei onde está minha mãe, eu não posso ter um caderno, e nem sandálias. Sabe? Eu nem acho caderno assim tão importante, as folhas que eu achei lá no lixão são mais legais, porque são folhas vitoriosas, elas continuaram bonitas no meio do lixo e eu pude aprender um montão de coisas nelas. Por que sempre há importância nas coisas desta forma? Por que eu tenho de ter um caderno? E por que ela quer que eu leve a minha mãe lá, se eu nem sei como ela é?
Então Fernandinha ficou sem ir à escola porque não tinha o que levar.
Num dia de domingo, dia muito bonito, ela ficou sentada na calçada vendo os meninos brincarem nos brinquedos. Ela não tinha alegria e nem vontade de brincar. As crianças brincavam animadas com seus pais, avós, enfim, ela apenas olhava.
Olhou novamente para o céu e perguntou: Quando eu for gente vou ter mãe? Nenhuma resposta... Ficou por ali até adormecer. Na manhã seguinte ela escuta alguém lhe chamar e tocar em seu rosto, era a tia Mônica.
Mônica - Fernanda, o que faz aqui dormindo no chão, no meio da rua? Pegando na mão de Fernandinha disse: venha, vamos até sua casa.
Ela - Já estou em casa tia.
Mônica - Como assim?
Ela - Eu sou moradora de rua, não tenho pais, nem caderno, nem sandália, não tenho escola, nem vou ser gente também.
Foi então que Fernandinha relatou sua história abraçada a alguém que dali por diante foi uma grande amiga.
(***) Nem sempre sabemos expressar o que dói, porque o que dói é muito difícil quando temos a idade para discernir, e para uma criança é dificílimo
____________--
Imagem: net
Mônica - Fernandinha preciso corrigir seu caderno amanhã, então não esqueça de trazer seu caderno e deixar o borrão em casa.
Ela - Tia pode corrigir esse, ele está bem arrumadinho olha!
Mônica - Fernandinha você já está me devendo a visita dos seus pais. Quer ficar sem nota pelo caderno?
Ela balançou a cabeça triste negativamente, e agora? Como iria arrumar um caderno para apresentar à professora? Ela não sabia das dificuldades de Fernandinha, e Fernandinha não queria contar, tinha receio de ser mandada embora da escola.
Senhor do alto, estou numa nervura só. Amanhã já está chegando e eu não tenho caderno. A tia pensa que as minhas folhas-caderno são um borrão, e você sabe que eu não disse nada, que tinha um caderno em casa, eu não tenho nem casa, quanto mais um caderno. O Senhor pode fazer um milagre destes que só o Senhor sabe fazer, e fazer cair daí de cima um caderno para eu trocar as letras desse para o ele?
Se não puder, eu também agradeço, mas não me deixa ser mandada embora da escola, eu preciso aprender a ser alguém. A dona Ivone disse lá na feira, que as pessoas precisam estudar para ser alguém um dia. Então como eu ainda sou só a Fernandinha e preciso aprender para ser alguém, me ajuda!
Na manhã seguinte, lá estava a Fernandinha olhando o outro lado do banco, embaixo dele e nada. Pronto! E agora? Sentou-se ao lado das suas folhas presas com um fio de plástico, verificou se tudo estava em ordem, foi no chafariz, lavou o rosto, passou as mãos nos cabelos para abaixá-los, e foi rumo à escola.
Chegando lá sentou-se na última carteira, baixou a cabeça e ficou bem quietinha. A professora Mônica entra na sala. Todos ficaram de pé, mas ela continuou sentadinha, para não fazer nenhum barulho. Quando de repente sem fazer chamada nem nada a tia fala em alto tom. Fernanda, queira por favor me trazer seu caderno.
Ela já não podia mais conter a ansiedade e levantando-se foi em direção à professora.
As folhas caíram de suas mãos, mas ela delicadamente as juntou e em seguida entregou à mestra.
Mônica - Por que está chorando querida?
Ela - São meus olhos tia, que estão com dó de mim.
Mônica - E por que seus olhos estão com dó de você?
Ela - Porque eles sabem que eu não tenho caderno.
Mônica - Mas este não é seu borrão?
Ela - Lembra que foi a senhora que disse isso?
É que foi a senhora que me mandou trazer o meu caderno e deixar o borrão em casa. Eu fiquei calada porque pensei que o caderno fosse muito, muito importante para senhora, então eu pensei que talvez se acontecesse um milagre, e o Senhor do alto me mandasse um caderno, tudo estava resolvido, mas Ele estava muito ocupado, muito mesmo, porque Ele tem que cuidar das pessoas do mundo inteiro.
Mônica - Venha cá, o que seus pais fazem?
Pausa...
Mônica - Não se acanhe querida, pode confiar em mim.
Ela - Eu confio.
Mônica - Por que sempre vem descalça para a escola?
Pausa...
Mônica - Amanhã peça à sua mãe para vir falar comigo, está bem?
Ela - Ela não vem tia.
Mônica - Virá querida entregue esse bilhete a ela, tenho certeza que ela virá.
Ela - Eu queria muito entregar, mas não posso.
Mônica - Fernanda, o que está acontecendo com você querida?
Pausa...
Então ela segurou o “caderno” corrigiu e prosseguiu a aula.
Na saída, ela tratou de novamente lembrar: não esqueça, venha com sua mãe amanhã.
Ela baixou novamente a cabeça e seguiu. No “seu” banco de praça, ficou olhando demoradamente para o céu.
Senhor do alto, eu gostava de ir para a escola, lá eu podia me alimentar e tinha amiguinhos, podia aprender, agora acabou. Eu não sei onde está minha mãe, eu não posso ter um caderno, e nem sandálias. Sabe? Eu nem acho caderno assim tão importante, as folhas que eu achei lá no lixão são mais legais, porque são folhas vitoriosas, elas continuaram bonitas no meio do lixo e eu pude aprender um montão de coisas nelas. Por que sempre há importância nas coisas desta forma? Por que eu tenho de ter um caderno? E por que ela quer que eu leve a minha mãe lá, se eu nem sei como ela é?
Então Fernandinha ficou sem ir à escola porque não tinha o que levar.
Num dia de domingo, dia muito bonito, ela ficou sentada na calçada vendo os meninos brincarem nos brinquedos. Ela não tinha alegria e nem vontade de brincar. As crianças brincavam animadas com seus pais, avós, enfim, ela apenas olhava.
Olhou novamente para o céu e perguntou: Quando eu for gente vou ter mãe? Nenhuma resposta... Ficou por ali até adormecer. Na manhã seguinte ela escuta alguém lhe chamar e tocar em seu rosto, era a tia Mônica.
Mônica - Fernanda, o que faz aqui dormindo no chão, no meio da rua? Pegando na mão de Fernandinha disse: venha, vamos até sua casa.
Ela - Já estou em casa tia.
Mônica - Como assim?
Ela - Eu sou moradora de rua, não tenho pais, nem caderno, nem sandália, não tenho escola, nem vou ser gente também.
Foi então que Fernandinha relatou sua história abraçada a alguém que dali por diante foi uma grande amiga.
(***) Nem sempre sabemos expressar o que dói, porque o que dói é muito difícil quando temos a idade para discernir, e para uma criança é dificílimo
____________--
Imagem: net